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SÃO PAULO – Um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em colaboração com instituições de pesquisa nacionais e internacionais, constatou que microplásticos estão presentes em larga escala em praias e rios no Brasil. O estudo que permitiu aos especialistas chegarem a essa conclusão foi publicado nas revistas Environmental Pollution e Water Research e diz respeito a resíduos plásticos com tamanho inferior a 5 mm, como fibras e detritos criados a partir da fragmentação de pedaços maiores de plástico. “Os microplásticos que entram em um ambiente de água doce são transportados, via os rios, até os oceanos”, disse à Agência Fapesp Luiz Felipe Mendes de Gusmão, professor da Unifesp da baixada santista e coordenador das pesquisas. “E quando chegam aos oceanos, esses fragmentos de plástico são transportados por correntes marinhas e tendem a ficar em suspensão na coluna d’água ou encalharem em praias”, afirmou.

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O estudo foi feito por amostragem a partir de levantamento nas praias de Itaquidantuva e de Paranapuã, que fazem parte da reserva ambiental de Xixová-Japuí, entre os municípios da Praia Grande e São Vicente, na baixada santista, em São Paulo. Durante um ano, os pesquisadores visitaram os locais semanalmente para recolher material para análise. “Observamos pellets de plástico, de diferentes cores e tamanhos, se acumulando na praia de Paranapuã o ano inteiro”, disse Gusmão. “Em alguns momentos, as praias ficavam cheias desses microplásticos, e em outros eles sumiam temporariamente em razão de fatores como a circulação oceânica, as ondas e o regime de ventos”, afirmou.

Prejuízos

Os microplásticos nos rios e oceanos podem ter efeitos nocivos à vida por representarem risco caso ingeridos por animais e por liberarem toxinas no água. No caso de prejuízos por ingestão, poucos casos são tão impressionantes quanto do peixe de água doce caborja, popular em regiões do semiáridas da América do Sul. Há registros que indicam que até 84% da população desse peixe contém algum tipo de microplástico em seu organismo. Trata-se do maior índice para uma espécie de peixe de água doce em todo o mundo, com diversos prejuízos para o habitat e o animal.

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A liberação de toxinas pelos plásticos também é um problema. Segundo Gusmão, esses materiais possuem aditivos como corantes, dispersantes e protetores contra raios ultravioleta são liberados na água com o passar do tempo. Pior: mesmo plásticos sem esses aditivos representam risco. Frequentemente, contaminantes presentes no meio aquático, como metais pesados e pesticidas, aderem à superfície desses plásticos, criando, no entorno, zonas com alta concentração de substâncias nocivas.

Em laboratório, larvas de mexilhões marrons foram expostos a essa nuvem de contaminantes e houve comprometimento no desenvolvimento embrionário e até morte de novos espécimes do animal. “Só a exposição aos microplásticos, sem que ingerissem, fez com que as larvas morressem”, disse Gusmão. Trata-se de um problema que merece atenção.

Confira a íntegra dos artigos:
“Leachate from microplastics impairs larval development in brown mussels” (para assinantes)
“In situ ingestion of microfibres by meiofauna from sandy beaches” (para assinantes)
“Microplastics ingestion by a common tropical freshwater fishing resource” (para assinantes)