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SANEA_

MENTO

É A

SOLUÇÃO

O banheiro mais caro do mundo custou cerca de 24 milhões de dólares e não é exatamente luxuoso. Desenvolvido pela Nasa para atender astronautas em ônibus espaciais, a geringonça é só mais uma demonstração de como a humanidade pode ser genial e desigual em vários sentidos.

Apesar de conseguir ir até a Lua, mais recentemente descobrir planetas possivelmente habitáveis, e até criar um banheiro completão para astronautas, ainda não solucionamos um de nossos maiores problemas: dar uma destinação inteligente e sustentável aos nossos excrementos.

Atualmente, para 2,5 bilhões de pessoas – ou pouco mais de um terço da população mundial –, a rotina diária inclui procurar um lugar para poder fazer as necessidades, já que essa parcela da população não tem acesso a banheiros e sistemas de esgoto adequados. Por água, todos os dias, mais de 700 milhões de pessoas saem de suas casas com latões e baldes na cabeça em busca de algo minimamente potável para beber, cozinhar, se lavar, já que não têm acesso à água limpa e segura.

O problema é seríssimo. Além de mostrar que uma parte importante da população mundial não tem acesso a direitos básicos e elementares, a falta de saneamento acarreta em poluição de rios, contaminação e índices altíssimos de morte por diarreia. Parece brincadeira, mas o “piriri” é a segunda maior causa de morte de crianças em todo o mundo, matando mais que doenças como Aids, tuberculose e sarampo juntas.

saneamento em números

em quase todos os países, o gasto

militar é superior ao orçamento

para saneamento básico.

A questão é que embora nem todo mundo goste, precisamos urgentemente falar sobre saneamento. Afinal, a falta de saneamento implica em custos enormes para o mundo: estima-se que são perdidos US$ 260 bilhões todos os anos por causa de mortes em consequência de saneamento inexistente ou precário.

O mais curioso é que em quase todos os países, o gasto militar supera em muito o orçamento destinado para o saneamento básico. “E mesmo sendo sempre um orçamento pequeno, entre 75% e 90% do total vai para assegurar o fornecimento de água limpa”, diz a jornalista Rose George, autora do livro “The Big Necessity”, em palestra do TED. “Isso é ótimo, todos precisam de água limpa, mas uma humilde latrina, ou um vaso sanitário, por diminuir o risco de contaminação da água, reduz as doenças duas vezes mais do que somente fornecer água limpa”, afirma Rose.

O fato é que ninguém gosta muito de falar sobre saneamento, esgoto e água contaminada. É difícil até achar uma palavra melhor que “excrementos”, muito embora “eles” façam parte do cotidiano de todo o mundo. Afinal, atividades simples como ligar a torneira, beber um copo de água, preparar alimentos e, depois, ir ao banheiro, dar a descarga e supor que tudo está resolvido já faz parte da vida de boa parte das pessoas que tem água e saneamento garantidos.

 

A história das cidades

cano abaixo

Já se passaram séculos desde o surgimento das primeiras latrinas – estima-se que isso aconteceu quando o homem deixou de ser nômade, há mais de 10 mil anos, e passou a viver o que se chama de vida sedentária, ou uma existência instalada em um único lugar. É difícil falar exatamente qual foi o primeiro banheiro construído. Sabe-se, por exemplo, que por volta de 2500 a.C., a civilização do Vale do Indo, na região oeste da Índia, já construía latrinas com água corrente e ligadas a canais feitos de tijolos que eram parte de um sistema sanitário que incluía até bueiros.

Para os ocidentais, Egito e Roma Antiga são os exemplos dos primeiros sistemas de latrina com água corrente. Quem não se lembra dos famosos aquedutos romanos? Anos depois, na Inglaterra, em 1596, o poeta inglês John Harrington – que também era afilhado da Rainha Elizabeth I – inventou a privada com descarga.

A invenção era genial e veio a desenhar o que hoje temos por conceito de saneamento. Desde o século 19, sabemos como resolver o problema dos “excrementos”, quando engenheiros instalaram sistemas de tratamento de esgoto ao vaso sanitário. E, desde então, os índices de doenças em populações servidas por esses sistemas caíram drasticamente.

De lá para cá muita tecnologia foi descoberta, o que viabilizou a evolução das cidades, a melhora na qualidade de vida e, em última instância, a noção de que cuidar da água e do esgoto é uma prática intimamente ligada ao que entendemos por civilização.

Não por acaso, em 2006 o saneamento foi eleito por mais de 11 mil leitores do periódico científico British Medical Journal, na Inglaterra, como a melhor invenção de todos os tempos, deixando para trás a criação dos antibióticos, da prática cirúrgica e da anestesia.

Mesmo assim, quando falamos do surgimento do saneamento, além de inovação e grandes descobertas, estamos tratando de cultura e criação de novos hábitos. Na Inglaterra, por exemplo, mesmo depois da invenção da privada, no século 16, muita gente com acesso a novidade permaneceu, por dezenas de anos, fiel a um antigo hábito, hoje inconcebível: lançar na rua, pela janela de casa, os baldes diários de excremento da família.

O fato é que mesmo com toda a história de evolução de tecnologias para o saneamento, ele ainda é o objetivo do milénio que está mais longe de ser alcançado. Para lembrar, a ONU lançou, em 2000, sete Objetivos do Milênio com metas estabelecidas para serem atingidas até 2015. Muito se avançou, mas as metas de saneamento, em especial, não foram atingidas.

O SANEAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE

Veja o que marcou a história do manejo da água e da coleta e tratamento de esgoto entre o século 16 e a atualidade

1565

A primeira obra de saneamento no Brasil

O militar português Estácio de Sá, fundador da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, realiza aquela que é considerada a primeira obra de saneamento básico do País, então colônia de Portugal. Como governador da cidade recém-criada, ele fura um poço para atender às necessidades da população. Cerca de um século depois, em 1673, a cidade dá início ao projeto do primeiro aqueduto do País, que, uma vez concluído, no século 18, ligará o rio Carioca ao chafariz do Largo da Carioca, abastecendo a população.

1596

Olha a descarga aí

O poeta inglês John Harrington, afilhado da Rainha Elizabeth I, inventa a privada com descarga. A novidade se chama “Ajax” e conta com um reservatório de água que tem uma abertura no fundo, selada por uma válvula de couro. Um sistema de alças, alavancas e pesos operam o sistema. Embora até a rainha tenha celebrado a invenção, a novidade é logo posta de lado e permanece esquecida por quase dois séculos. A população prefere se manter fiel ao antigo hábito de esvaziar baldes de esgoto pela janela.

1600

Uma ideia inusitada

Cidades japonesas passam a usar os dejetos humanos como material para fertilizar plantações. Com isso, a população reduz o contato humano com os dejetos. As águas residuais também deixam de ser descartadas nos cursos de água. Dessa forma, diminuem os casos de diarreia e infecção geral por doenças transmitidas pelo contato direto com fezes humanas. O rios passam a manter bom nível de oxigenação da água e a vida floresce. O uso dos cursos de água como vias de transporte aumenta.

1609

Os oásis indiano

Nas regiões semi-desérticas da província do Rajastão, no noroeste da Índia, consolidam-se as técnicas para acúmulo e estocagem de água durante os períodos de seca. Em Amber, perto de Jaipur, capital da província, o Jairgah Fort, com seus canais de 15 quilômetros e reservatório com capacidade para quase 23 milhões de litros de água reúne séculos de tecnologia cuidadosamente aprimorada. O sistema funciona e serve aos habitantes da cidade até hoje, mais de 400 anos depois de sua criação.

1775

O “S” do mecânico escocês

A Revolução Industrial na Inglaterra muda os hábitos da população, que passa a viver em comunidades maiores e a formar aglomerados urbanos mais parecidas com as cidades que conhecemos atualmente. Essa população retoma a ideia da descarga, que recebe algumas modernizações, e passa a ser adotada em ritmo cada vez mais acelerado. No mesmo ano, o mecânico escocês Alexander Cumming inventa a armadilha “S”, até hoje no mercado, que usa água parada para fechar a saída da bacia e impedir a fuga de ar sujo do esgoto.

1848

Novas leis

Na Inglaterra, é instituída a Lei de Saúde Pública de 1848, seguida da Lei Sanitária de 1866, que torna as autoridades locais responsáveis ​​pela regulamentação sanitária, incluindo a eliminação de esgotos e o abastecimento de água. À época, a população da Inglaterra aumentava rapidamente, mas o número de banheiros, não. A maior parte dos dejetos humanos era lançada em covas ou na própria rua e os resíduos e lixo tomavam conta de rios, empesteavam o ar e sujavam a cidade.

1853

Água parada e Aedes Aegypti

Epidemias de febre amarela varrem o sul dos EUA. Só em Nova Orleans e Charlestone, a doença mata mais de 30 mil pessoas e motiva a fuga de 150 mil. Em 1898, descobre-se que a febre é transmitida pelo mosquito Aedis aegypti e que, com a extinção de criadouros em água parada, os casos diminuem. Em Cuba, um dos focos da doença, a medida zera o número de doentes entre 1900 e 1902. Na mesma época, suspeita-se que a febre tifóide, que se espalha por água contaminada, tenha matado dois presidentes americanos: W. Harrison e Z.Taylor.

1854

Não é miasma, é água contaminada

Após uma fantástica investigação, ao estilo do eterno detetive inglês Sherlock Holmes, o médico John Snow descobre que o cólera – uma devastadora doença que matou milhões de pessoas nos seis continentes – era transmitido pela água. Com isso, cai  por terra a teoria do miasma, até então respeitada, e que defende que as doenças epidêmicas, como o colera e diarreias em geral, surgem e se disseminam em vapores tóxicos inalados pelos habitantes de cidades populosas.

1855

Revolução das tubulações de Chicago

O engenheiro de meia-idade Ellis Chesbrough é chamado para construir o sistema de esgoto da insalubre Chicago, nos Estados Unidos. Para isso, Chesbrough eleva toda a cidade em cerca de três metros para construir o sistema de tubulações de esgoto. Seus conhecimentos em engenharia ferroviária o ajudam na empreitada: ele usa um macaco de rosca para erguer as edificações. A ousadia de Chicago abre caminho para que outras cidades americanas construam seus sistemas de esgoto.

1860

O descaso com os “tigres”

A precariedade do sistema de limpeza do Rio de Janeiro chama a atenção de viajantes estrangeiros. Relatos descrevem a imundice, os ratos e os urubus que circulam pelas ruas e vielas da cidade. O recolhimento da urina e das fezes de quem mora em casarões é feito durante a noite por escravos usando tonéis. Durante o transporte desses tonéis ao mar, parte do conteúdo cai e mancha a pele dos escravos, que são cruelmente apelidados de “tigres”. A prática continua no Rio de Janeiro até 1860 e no Recife até 1882.

1872

Fossa séptica

A fossa séptica é inventada pelo francês Jean Louis Mouras. Ele tem a ideia ao perceber que, com o passar do tempo, o volume dos sólidos acumulados em um tanque de alvenaria que recebe os efluentes de sua residência se reduz em muito. Mouras conclui que o tempo permite a sedimentação dos sólidos no fundo do tanque e a retenção das gorduras, graxas e óleos na superfície. A novidade é patenteada apenas em 1881 como “Eliminador Automático de Excremento‟ e ganha o nome de fossa séptica na Inglaterra, em 1896.

1908

A descoberta do cloro

O médico sanitarista John Leal usa, pela primeira vez, uma solução de hipoclorito de cálcio em um sistema de tratamento de água. Sem autorização, ele e George Fuller constroem um mecanismo de liberação da solução no sistema de abastecimento de água de Nova Jersey (EUA). Em pouco tempo, a “ousadia” reduz à metade a taxa de mortalidade por febre tifóide e a mortalidade infantil. Pelo “delito”, Leal é julgado e absolvido e a inovação se espalha pelo mundo. Leal não patenteia a solução e não ganha um centavo sequer pela invenção.

1930

Japão e a cultura do saneamento

O Japão começa a modernizar seu sistema de distribuição de água e recolhimento e tratamento de esgoto. Até então um país considerado atrasado no quesito, principalmente nas cidades, o Japão passou a fazer pesados investimentos em infraestrutura. Paralelamente, houve um esforço de conscientização e de criação de uma cultura sanitária. Saneamento é assunto no Japão, e por ser assunto, ele deixou de ser tema proibido e é celebrado, com privadas ultra-tecnológicas e tecnologia revolucionária de controle de perdas na distribuição de água.

1957

Recuperação do Tâmisa

Em Londres, na Inglaterra, começa o processo de recuperação do rio Tâmisa, considerado um rio morto. O curso de água tem odor sulfuroso (ovo podre) e é chamado de Grande Fedor. A partir dos anos 1960, novas estações de tratamento passam a funcionar no curso do rio e os esforços dão resultado. O mau cheiro some e os primeiros peixes ressurgem. Na mesma época, outros rios em grandes cidades pelo mundo passam por processos de recuperação semelhantes e são devolvidos à população, que ganha em qualidade de vida.

1961

Dessalinização ganha escala

Nos EUA, começa a funcionar uma das primeiras usinas de dessalinização em larga escala do mundo. Erguida em menos de um ano a um custo de US$ 1,5 milhão (valores da época) ela produz, por meio da evaporação, cerca de 3,78 milhões de litros de água potável por dia a partir de água do mar. Cada mil litros de água dessalinizada custa de US$ 1,25. Para se tornar economicamente viável, as técnicas de dessalinização são modernizadas nos anos seguintes. A criação das membranas de osmose reversa é um marco nesse processo.

1980

Contra o desperdício de água

 No Japão, especialistas em consumo de água percebem que o gasto do recurso nos banheiros femininos é superior ao volume usado nos banheiros masculinos. A razão: as mulheres acionam a descarga durante todo o período na cabine para mascarar barulhos constrangedores. A fabricante de privadas Toto teve, então, uma grande ideia. A empresa criou o botão “Som da princesa”, que ao ser acionado, reproduz, por uma pequena caixa de som, o barulho da descarga. A novidade economiza 20 litros de água a cada uso do banheiro.

1987

O nascimento do desenvolvimento sustentável

O conceito de “desenvolvimento sustentável” é criado e definido pela Comissão Brundtland no Relatório Brundtland (Our Common Future). O trabalho foi comissionado pela ONU e estabelece que o desenvolvimento sustentável depende do atendimento de três condições: crescimento econômico, proteção ambiental e igualdade social. A conservação da água é um dos assuntos que mais recebe atenção eixo “proteção ambiental”. O ambientalista Paulo Nogueira Neto representa o Brasil na comissão.

1992

Eco92

A Eco92, um dos nomes da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, é uma das consequências do Relatório Brundtland e reúne, no Rio de Janeiro, 116 chefes de Estado e mais de 10 mil pessoas para discutir o desenvolvimento sustentável. A água está presente direta ou indiretamente nos principais documentos produzidos pela conferência, entre eles a Declaração do Rio, a Agenda 21, as convenções de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Desertificação e a Carta da Terra, entre outros.

1993

Dia Mundial da Agua

É celebrado o primeiro Dia Mundial da Água. A data foi criada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Eco92, que aconteceu no Rio de Janeiro. Fica estabelecido que, a cada ano, a data terá um tema que deve pautar painéis, simpósios, seminários e publicações da ONU e outros órgãos ligados à causa da água pelo mundo. Já foram temas “Água e emprego” (2016), “Saneamento” (2008) e “Água para cidades” (2011). Este ano, o tema escolhido foi águas residuais.

2007

Lei do Saneamento Básico

É promulgada a lei Lei nº 11.445/07, conhecida como Lei do Saneamento, que estabelece diretrizes para o saneamento básico no País e abarca os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas. Uma das principais metas estabelecidas pela Lei é a de universalizar o saneamento. A lei não estabelece, porém, instrumentos por meio dos quais os titulares do serviço, que são os municíios, podem exercer suas responsabildiades.

2010

Água e saneamento viram diretos essenciais

Por 122 votos a favor e 41 abstenções, a ONU decide que o acesso à água potável e ao saneamento básico são direitos humanos essenciais. Com isso, a situação do acesso a esses direitos pelo mundo passa a ser monitorada mais intensivamente e a integrar, de maneira transversal, os relatórios da instituição. O compromisso dos países signatários das Metas do Milênio, que tratam da sustentabilidade ambiental, é reforçado pelo status de direito que o acesso à água potável e saneamento passam a ter.

2015

A Encíclica Verde do papa Francisco

Na chamada “Encíclia Verde”, o papa Francisco abraça, oficialmente, a causa ambiental e aborda os problemas associados à falta de água potável, descrita como “indispensável para à vida humana e para sustentar os ecossistemas”. Francisco lembra ainda de “um problema particularmente sério (…): o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas”. O documento é celebrado mundialmente por levar o assunto ao centro das discussões de uma das maiores religiões do planeta.

2015

O futuro e a água

Em influente palestra durante o TedX Marin, David Sedlak, da Universidade da Califórnia em Berkeley, lista quatro medidas fundamentais para garantir um futuro de segurança hídrica. São elas o uso da água de chuva para recarregar mananciais, a adoção, em escala, de soluções de água de reuso, o controle da demanda e a redução geral do consumo via adoção de novas tecnologias de otimização no uso do recurso e a dessalinização de água do mar.

2016

Crise hídrica e Forum Econômico Mundial

A crise da água nas suas mais variadas manifestações passa a ser considerada o maior risco global, segundo 900 representantes do mundo econômico, político e social que compõem o Fórum.  Em 2015, a crise da água ocupava a terceira posição. Mais: em 2016, a “crise hídrica” muda de categoria na lista de problemas esmiuçada pelo painel que se reúne anualmente em Davos, na Suiça. Até 2015, ela se enquadrava na categoria de risco ambiental. A partir de 2016, ela passou a ser reconhecida como um risco para a sociedade como um todo.

2016

Energia à base de esgoto

A cidade de Aarhus, na Dinamarca, é a primeira do mundo a produzir água potável usando apenas energia gerada a partir da biodigestão do esgoto. A estação de tratamento de águas residuais de Aarhus gera mais de 150% da eletricidade necessária para operar todas as atividades da planta. O excedente é usado para bombear água potável pelo sistema que atende a cidade, que tem mais de 200 mil habitantes, ou vendido para a distribuidora de energia, que o revende em cidades vizinhas.

AS METAS DO

SANEAMENTO

No mesmo ano, a provisão mundial de água limpa e saneamento foi decretada como a sexta das 17 Metas de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) adotadas também pela ONU como parte da ambiciosa Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Também em 2015, a Assembleia Geral da ONU reconheceu o saneamento como direito humano distinto do direito à água potável. A resolução destacou a situação das mais de 2,4 bilhões de pessoas no mundo que vivem sem acesso a banheiros e sistemas de esgoto adequados.

Na época, o relator especial da ONU sobre os direitos humanos relacionados à água potável e ao saneamento básico, o brasileiro Léo Heller, afirmou que a deliberação tinha o objetivo de “dar para as pessoas uma percepção mais clara do direito (ao saneamento), fortalecendo sua capacidade de reivindicá-lo quando o Estado falha em prover os serviços ou quando eles não são seguros, são inacessíveis ou não tem a privacidade adequada”. Para Heller, a ausência de estruturas sanitárias tem um ‘efeito dominó’, prejudicando o atendimento de outros direitos humanos, como o direito à saúde, à vida e à educação.

Segundo estudo recente realizado pela ONU, somadas as abstenções escolares de todos os alunos no mundo, problemas ligados à falta de saneamento e água fazem com que 443 milhões de dias letivos sejam perdidos todos os anos. E, por incrível que pareça, hoje, em pleno século 21, com toda a tecnologia já desenvolvida na área, uma em cada dez pessoas ainda não têm outra alternativa a não ser fazer “as necessidades” ao ar livre. Pior: 315 mil crianças morrem todos os anos de diarreia causada por água suja e falta de saneamento básico – isso equivale a uma a cada 20 segundos.

saneamento como solução

um bom

investimento

O fato é que embora saneamento seja sempre relacionado a problemas de saúde, mortes por diarreia, atrasos de Índices de Desenvolvimento Humano e perdas enormes de dinheiro, trata-lo como problema não só é uma injustiça, como está errado. O saneamento deve ser visto como uma solução que amplia ampliar a qualidade de vida e a dignidade das pessoas.

Quando se observa o volume de recursos necessários para universalizar o saneamento no mundo, o desafio pode parecer impossível. Convém lembrar, porém, que quando são pesados os retornos sobre esses investimentos, percebe-se que o desafio não só é vencível, como lucrativo. Poucos investimentos são tão rentáveis quanto aportar recursos na universalização do saneamento. Os retornos são gigantescos.

Um estudo do Banco Mundial determinou que, para que todos tivessem acesso a saneamento básico, seria necessário que o mundo investisse US$ 265 bilhões em cinco anos – ou cinco parcelas US$ 53 bilhões. O mesmo Banco Mundial provou que a falta de saneamento básico custa, para o mundo, US$ 260 bilhões todos os anos. É ou não é um bom negócio?

As tecnologias para a produção e distribuição de água, além do tratamento e reuso de efluentes estão aí, mas atendem apenas a uma fração da população mundial. Universalizar é bom para todos. Com o tempo, ter água e tratar esgoto deve ser tão natural que nós sequer nos lembraríamos dos problemas que a falta desses recursos gera. Buscar água a quilômetros de casa, ferver o líquido para ter certeza de que as crianças não ficarão doentes ao bebê-lo, e ter de procurar um local para ir ao banheiro a céu aberto, todos os dias, deixariam de ser preocupações.

Como a luz que se acende em casa, ou a internet que simplesmente funciona, a água e o saneamento figurariam nas nossas vidas como ferramentas que tornam nossa existência melhor e mais produtiva. O que é saneamento? Saneamento é solução.