Escolha uma Página

SÃO PAULO – Durante séculos, o ser humano lutou contra a água nas cidades, construindo diques na costa, impermeabilizando ruas e se protegendo de chuvas e tempestades. Mas, segundo especialistas, no futuro próximo, com as mudanças climáticas e o aumento dos chamados “eventos de clima extremo”, esses esforços terão cada vez menos efeitos. Nesse sentido, arquitetos e planejadores urbanos estão mudando a forma de pensar as cidades e suas construções com intuito de produzir projetos que abandonam a ideia de “dominar” a água. Nessa nova safra de ideias, o mote passa a ser o de tratar a água como uma aliada e trabalhar em sincronia com ela. Conheça abaixo alguns dos projetos que já trabalham essa nova forma de pensar e fazer as cidades.

Conexão Holanda, Inglaterra, Dinamarca e Estados Unidos

Em Veur-Lent, na Holanda, um novo complexo de casas à beira mar concebido pelo escritório Baca Architects oferece um conjunto de recursos inusitado para lidar com enchentes, ressacas e a elevação do nível do mar, prevista para acontecer de forma ainda pronunciada nos próximos anos como consequência do aquecimento global. Usando um algoritmo que calcula o risco de cada casa diante dessa realidade, foram criadas residências que flutuam e se elevam e baixam com o nível do mar. Desenhadas para se mover em sincronia com variações de até 12 metros no nível do mar, elas foram pensadas para não resistir à ascensão das marés, mas sim acompanhá-las. A nova forma de morar forçará um repensar na legislação urbana e de seguros.

Leia mais
Irrigação variada “prescreve” volume de água e aumenta eficiência no campo
Tecnologia permite monitorar qualidade da água de reservatórios via satélite
Projeto que automatiza detecção de perdas de água ganha prêmio

Enquanto isso, na Inglaterra, a empresa Tarmac, que em 2015 desenvolveu o Topmix Permeable, um tipo de concreto permeável capaz de drenar até 2,5 mil litros de água por minuto, segue desenvolvendo outros tipos de material que dão conta do aumento de fluxo de chuvas nas cidades. Em vez de impermeabilizar e afastar a água de onde ela cai, o sistema permite que ela se infiltre no solo para, eventualmente, recarregar mananciais subterrâneos. Já na Dinamarca, o escritório arquitetônico THIRD NATURE (Tredje Natur) criou uma garagem que flutua sobre uma espécie de piscinão. Quando chove demais, a construção se eleva para dar lugar à água em excesso. Em São Francisco, nos Estados Unidos, qualquer novo empreendimento com mais de 23 mil metros quadrados precisa ter instalado um sistema de reciclagem de seus efluentes.

O Oddysea Development do WaterStudio

Quando o escritório de arquitetura WaterStudio criou o conceito de Blue City, a ideia foi desenvolver iniciativas que usassem água para gerar, armazenar e reduzir o consumo de energia. Em pouco tempo, essas ideias começaram a repercutir nos círculos do segmento e os arquitetos acabaram contratados para construir um resort que ocupará uma ilha artificial de um quilômetro quadrado no mar do Bahrein. Chamado de “Oddysea Development”, a obra deve começar em 2019 e custará entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões.

Estão previstos, para o “Oddysea Development”, fazendas de turbinas marítimas, que, instaladas em barreiras oceânicas, gerarão energia elétrica com a força das marés. Também farão parte do complexo painéis solares com tecnologia que permite que eles funcionem flutuando no mar e, ocasionalmente, submergindo autonomamente para evitar superaquecimento – uma solução ainda inédita para lidar com o excesso de insolação. O projeto pretende, ainda, desenvolver as chamadas “Blue Batteries”, ou baterias azuis, que garantirão o fornecimento de energia vinda dos painéis solares mesmo durante a noite.

As baterias são, basicamente, reservatórios de água nos topos dos edifícios mais altos do complexo de entretenimento. Durante o dia, quando os painéis funcionam a todo vapor e o consumo de energia é menor, parte do excesso de energia será usada para bombear água para os reservatórios nos topos dos edifícios. A noite, quando não há mais sol, a água será despejada, por dutos, do topo do prédio para turbinas, no nível do solo, que gerarão energia elétrica para ser usada a noite.

Também está prevista a incorporação de dutos de água nas paredes, pisos, praças e ruas do complexo de entretenimento. Por esses dutos, circulará água que ajudará a reduzir a temperatura nesses locais, desobrigando os sistemas de ar-condicionado de funcionarem com toda potência a todo momento. “Sabemos que alguams dessas ideais podem não fucionar”, diz Koen Olthuis, fundador do Water Studio. “Mas sabemos que elas acabarão integradas às cidades do futuro”.

Confira mais exemplos em matéria produzida pela Revista Smithsonian, que pertence ao complexo de museus públicos norte-americanos Smithsonian, em Washington, nos Estados Unidos.