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SÃO PAULO – Cientistas norte-americanos anunciaram a criação de uma folha biônica que transforma água em combustível usando luz solar. Concebida e construída por profissionais de dois laboratórios da Universidade Harvard, em Cambridge, no estado do Massachusetts, a folha quebra as moléculas da água em oxigênio e hidrogênio. Depois, com ajuda de uma bactéria, a folha combina o hidrogênio com dióxido de carbono (CO2) para criar até três combustíveis líquidos: álcool isopropílico, isobutanol e isopentanol – todos muito parecidos com o etanol que abastece 20 milhões de carros flex no Brasil. “Estamos falando de um verdadeiro sistema artificial de fotossíntese”, disse ao portal EcoWatch Daniel Nocera, um dos criadores da folha biônica e pesquisador de energias renováveis de Harvard. “E ele é mais eficiente que a fotossíntese da natureza”, afirma.

plantas de arvore no sol

Fotossíntese da folha biônica é 10 vezes mais eficiente que a fotossíntese das folhas naturais (Foto: Thinkstock Photos)

As plantas produzem energia com eficiência de cerca de 1%, ou seja, conseguem converter 1% da energia da luz solar em energia útil à ela por meio do processo de fotossíntese. A primeira versão da folha biônica de Nocera e sua equipe tinha eficiência equivalente. Mas, com a engenharia de bactérias mais eficientes e o refinamento do processo de quebra das moléculas de água em oxigênio e hidrogênio, a folha biônica já trabalha com eficiência de 10%. Ou seja, converte 10% da luz solar em energia na forma de combustíveis líquidos. Segundo os cientistas de Harvard, não há nada que impeça que a eficiência da folha biônica chegue a 70% ou 80% num futuro próximo. E dar escala ao projeto não deve ser difícil, já que os materiais necessários para a fabricação dessas folhas biônicas são relativamente simples e baratos de se obter.

folha bionica na luz artificial

Folha biônica usa luz solar e CO2 para transformar água em combustível (Foto: Harvard University/Reprodução do YouTube)

Os benefícios da adoção de um sistema como esse para a geração de energia que atenda às necessidades humanas são imensuráveis. Uma produção de combustível que sequestra CO2 e tem água e luz solar como insumos tem força para revolucionar o mercado de energia. Os criadores da folha biônica, porém, não parecem dispostos a limitar o uso da tecnologia à energia e já desenham aplicações da novidade na medicina, por exemplo. Pamela Silver, co-criadora da folha biônica e pesquisadora da Harvard Medical School, a Faculdade de Medicina da Universidade Harvard, já estuda como adaptar as habilidades das bactérias que consomem o hidrogênio para fazê-las produzir remédios e vitaminas. Com a folha biônica, abre-se um novo capítulo em áreas tão diversas quanto produção de energia e engenharia bioquímica.

A íntegra da pesquisa que apresenta a folha biônica está disponível, em inglês, apenas aos assinantes da revista científica Science. O título do artigo é Water splitting–biosynthetic system with CO2 reduction efficiencies exceeding photosynthesis e os autores são Chong Liu, Brendan C. Colón, Marika Ziesack, Pamela A. Silver e Daniel G. Nocera.