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SÃO PAULO – As metrópoles, com seus arranha-céus e avenidas largas de tráfego intenso, irão começar a ser repensadas a partir de uma lógica local. Cidades pequenas têm a seu favor o incentivo às relações humanas mais próximas, um sentido de colaboração e de progresso coletivo. Segundo reportagem da plataforma especializada Curbed, o ano de 2019 chega com um novo espírito e um olhar que tende a moldar o planejamento urbano daqui pra frente. Confira os dez destaques:

  1. Zoneamento privativo e estacionamento

Um dos principais pontos é rever as leis de zoneamento da cidade. Regiões muito residenciais ou muito comerciais geram intensa demanda por mobilidade. Além disso, dedicar uma área ampla para apenas um uso acarreta em subutilização do espaço, o que também é consequência da proliferação de estacionamentos – a tendência é que os estacionamentos devam receber cada vez menos atenção no planejamento urbano. São Francisco, por exemplo, acaba de votar para eliminar as instalações para carros em todos os empreendimentos novos.

  1. Invasão dos patinetes

Eles chegaram para ficar e é bom já ir se acostumando. Na costa oeste do Estados Unidos, os patinetes elétricos já são uma realidade e fazem parte do cotidiano local. Empresas como a Uber e a Lyft implantaram frotas maciças e planejam expandir seus negócios pelos EUA e também para outros países. Embora o negócio de aluguel de patinetes ainda pareça insustentável, as companhias do segmento seguem incentivando o uso. Enquanto isso, prefeitos, planejadores e trabalhadores da engenharia de tráfego tentam equilibrar os aspectos positivos e negativos dos patinetes: o aumento das opções de mobilidade deixa mais espaço livre para carros e emite menos poluentes; em contrapartida, a pilotagem insegura e a superlotação na calçada já começam a ser experimentados em cidades como Santa Mônica, na Califórnia.

Bicicleta e patinete. Crédito: Kenny Luo/Unsplash

  1. Mudanças climáticas

Segundo o Curbed, as áreas urbanas são responsáveis por 70% do CO2 gerado no planeta. Mas, ao mesmo tempo em que representam ameaça, essas mesmas áreas também podem trazer soluções para as mudanças climáticas e o aumento das emissões de carbono. Segundo pesquisa da C40, 27 cidades ao redor do mundo já conseguiram provar que é possível combinar crescimento econômico e redução de emissões: ações direcionadas ao transporte, códigos de construção civil, energia renovável e eletrificação podem ajudar as cidades a atingir metas agressivas de redução de carbono.

  1. Grandes empresas na berlinda

Concentração de renda e práticas de trabalho vistas como antiéticas estão no foco dos debates sociais. A Amazon, por exemplo, esteve no centro das críticas em 2018, quando foi questionada a respeito das demandas por direitos trabalhistas em novos depósitos na Amazônia, por novas regras sobre o processo de incentivo corporativo, por implicações de privacidade da tecnologia e por seu apoio (ou falta de apoio) para instituições locais. 

  1. Taxação sobre congestionamentos

Parece esquisito, mas a ideia é essa mesma: com um trânsito cada vez mais pesado nas grandes cidades, alguns planejadores urbanos passaram a sugerir uma cobrança por congestionamento a fim de desincentivar o uso do transporte privado individual em detrimento do transporte coletivo, pelo menos nos horários de pico e em bairros onde o tráfego é mais difícil. A ideia foi implementada com sucesso em cidades como Cingapura, Estocolmo e Londres. Até Los Angeles, conhecida pelo volume de carros, discutiu a ideia – o chefe do sistema de metrô da cidade sugeriu a criação de tal sistema para pagar pela expansão dos trens subterrâneos.

  1. Revisão da previdência

Com o envelhecimento da população, muitos países passaram a revisar os cálculos para o pagamento de aposentadorias. A Liga das Cidades da Califórnia informou que os pagamentos de pensões, que toma 11% dos orçamentos, saltarão em cerca de 50% até 2025. De acordo com o Wall Street Journal, o rombo de aposentadoria das cidades e estados dos EUA é de US$ 4 trilhões, o que equivale à economia do Japão. Los Angeles tem uma dívida de US$ 15 bilhões com o fundo de aposentadoria para funcionários municipais. A tendência é de que os municípios revejam suas práticas a respeito do tema.

Prédio com problemas de habitação. Crédito: BigBadChan/Unsplash

  1. Crescimento da falta de moradia

O crescimento da população em situação de rua tem preocupado as autoridades. Embora a elevação seja discreta, a questão está intrinsecamente ligada à acessibilidade. Uma nova análise da Zillow, uma companhia da área da construção civil, revelou que o déficit de moradia cresceu nas regiões mais valorizadas das cidades, incluindo Los Angeles, Nova York, São Francisco e Washington. Exatas dez cidades na costa oeste dos EUA já declararam estados de emergência devido à crise dos sem-teto.

  1. Preços inacessíveis

Pesquisa da Universidade Harvard mostra que casas de aluguel para americanos de baixa renda se tornaram cada vez mais difíceis de encontrar. O Centro de Estudos Habitacionais elaborou um inventário de unidades acessíveis e constatou que o número permaneceu essencialmente inalterado desde 2015. Para cada 100 inquilinos de renda mais baixa, apenas 35 unidades são acessíveis e estão disponíveis. Isso representa um déficit de 7,2 milhões de unidades só nos EUA. Mais de 2,5 milhões de unidades com preço abaixo de US$ 800 desapareceram entre 1990 e 2016.

  1. Legislação em mudança

Antes presente entre as substâncias proibidas, a maconha agora passa a ser liberada por algumas sociedades que estão repensando suas formas de regulação. Em 2018, a população norte-americana aprovou em referendo público o uso recreativo da cannabis em Michigan (EUA). Mas os efeitos da decisão não são bem conhecidos, como os meandros das regras e o destino das receitas geradas. Nova York também já começa a cogitar essa possibilidade e deve decidir sobre a questão em 2019. As autoridades defendem que um imposto sobre a maconha poderia ser usado para fazer a manutenção do metrô, por exemplo.

Trânsito de veículos. Crédito: Alexander Popov/Unsplash

  1. Saúde do trânsito

De acordo com o TransitCenter, sediado em Nova York, em 31 das 35 principais áreas metropolitanas dos EUA, o número de usuários de ônibus e trens diminuiu ao longo do último ano nos principais mercados, como Boston, Chicago e Los Angeles. Mesmo os sistemas de transporte interligados, como Nova York e D.C., estão sendo prejudicados pelo impacto de problemas de manutenção, do aumento da propriedade de carros e expansão do Uber e do Lyft. Mas a tendência ainda é imprecisa. Com o serviço de patinetes elétricos e, talvez, mais investimentos no transporte público e o desestímulo ao carro particular as cidades possam ir reinventando seus sistemas de mobilidade urbana.