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SÃO PAULO — Em dezembro de 2018, será realizada, na Polônia, a COP 24 (24ª Conferência do Clima), que tem como objetivo principal garantir que a temperatura global não aumente mais que 1,5ºC até o final do século, tendo como comparação o clima na era pré-industrial. Mas já há lugares onde a temperatura está bem acima deste teto: um deles é a cidade de São Paulo, cuja média de aquecimento climático está em aproximadamente 3°C.

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Quem afirma é Marcos Buckeridge, coordenador do programa da Universidade de São Paulo (USP) “Cidades Globais” e coautor de um dos capítulos do “Quinto Relatório do IPCC” (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). Em entrevista ao portal UOL, Buckeridge apresentou os dados de seu trabalho e projetou que, já nos próximos anos, a capital paulista deve enfrentar graves consequências relativas às mudanças climáticas.

“Em São Paulo já tivemos um aumento de 2ºC nos últimos 50 anos. Temos olhado reiteradamente estes dados, que podemos obter dos bancos de dados que temos sobre São Paulo e, por eles, estamos mesmo caminhando para os 3ºC”, afirmou o biólogo. Ele acrescentou que 90% da população mundial viverá em cidades até 2040, uma vez que os custos de vida seriam 15% menores nos centros urbanos.

De acordo com Buckeridge, o aumento de 3°C em São Paulo irá resultar em seis grandes consequências.

As 6 consequências do aquecimento global em São Paulo

1 – Chuvas e alagamentos

A cidade sofrerá com chuvas cada vez mais fortes e isto irá resultar em mais alagamentos localizados. “Uma melhor arborização da cidade pode ajudar a espalhar melhor as nuvens e amenizar os extremos de chuvas em certas regiões”, acredita o biólogo.

2 – Morte de idosos

Períodos de alta temperatura noturna por vários dias são extremamente prejudiciais à saúde humana, levando inclusive à morte de pessoas mais velhas. Para o cientista, este tipo de tragédia pode virar rotina nos próximos anos. “Os seres humanos se adaptam a mudanças de temperatura, mas podemos sair de uma região que qualquer ser humano tolera”, afirma.

3 – Energia e transporte

Buckeridge prevê que as altas temperaturas levarão mais pessoas a aumentar o uso de ar-condicionado em casas, ambientes de trabalho e automóveis. “Com isto, teremos maior gasto de energia de forma geral, aumentando a demanda. Se a nossa matriz energética não estiver bem adaptada, aumentaremos as emissões ao invés de diminuí-las”, prevê.

4 – Água

A elevação da temperatura também faz crescer o consumo de água. O aumento do consumo hídrico pode aprofundar as desigualdades, fazer crescer o desperdício proporcional e intensificar a dependência a água das chuvas. “Isso porque o tamanho da população na região metropolitana já é tal que não temos margem de segurança para eventuais períodos de escassez hídrica”, analisa.

5 – Alimentos

Os efeitos negativos do aquecimento sobre a produção agrícola no campo comprometerão a produtividade e qualidade dos alimentos, afetando as populações urbanas. “Nós provavelmente teremos que nos preparar para monitorar os alimentos em tempo real para saber o que está acontecendo. A discussão agora é sobre a possibilidade de agricultura urbana. São Paulo já está entrando neste caminho, mas esse tipo de agricultura também deverá enfrentar problemas com aumento de temperatura e poluição”, afirma.

6 – Doenças infecciosas

As temperaturas mais altas no verão já vêm intensificando os casos de doenças infecciosas como dengue, febre amarela, zika e outras provocadas por vírus e dependentes de vetores animais que podem se espalhar pela região urbana.

Fonte: Marcos Buckeridge