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SÃO PAULO – A Cidade do Cabo, capital legislativa da África do Sul e casa de 4 milhões de habitantes, enfrenta sua pior seca em 100 anos, mas teve um alento a partir de meados do inverno de 2018. Após a prefeita Patricia de Lille afirmar que a cidade “chegou a um ponto sem retorno” e afirmar a necessidade do Day Zero (Dia Zero, em tradução livre), as chuvas voltaram e garantiram o fornecimento hídrico por pelo menos mais um ano.

“Os níveis das barragens da Cidade do Cabo estão se aproximando de 70% da capacidade de armazenamento devido às boas chuvas no início do inverno e aos fenomenais esforços  de conservação dos cidadãos”, afirmou o vice-prefeito Ial Neilson em comunicado. No mesmo documento, ele afirma que a partir de outubro as restrições ao consumo de água e as tarifas associadas a seu uso devem ser reduzidas, mas de forma conservadora.

A partir deste mês, os moradores podem usar 70 litros de água por dia, 40% mais do que o antigo limite, de 50 litros diários – para efeito de comparação, um minuto de banho usa 10 litros de água.

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O que quase ocorreu no Dia Zero?

No início de outubro, a prefeitura da Cidade do Cabo anunciou que a classificação da situação hídrica melhorou do nível 6B para nível 5, o que significa que a cidade saiu do estágio mais duro da seca, mas que ainda precisa continuar economizando água para não correr o risco de desabastecimento total.

Este ano, foi por muito pouco que a segunda maior cidade sul-africana não ficou sem água. A crise foi resultado de três anos consecutivos de seca intensa. Após 2015 e 2016 muito secos, 2017 foi ainda pior – naquele ano foi registrado o inverno mais seco da história da cidade, um fenômeno que climatologistas locais afirmam só ocorrer a cada mil anos.

A consequência deste desastre climático foi chegar a 2018 com reservatórios em níveis baixíssimos e, no começo do ano, foi estipulada a data de 16 de abril como o Dia Zero, ou seja, o dia em que o abastecimento seria completamente cortado, com algumas exceções.

A data foi reagendada para 15 de julho e, por fim, acabou sendo cancelada – ou postergada para 2019, caso não seja possível reverter o quadro de seca. No Dia Zero, toda a distribuição de água seria interrompida para casas e comércio, com exceção de hospitais, escolas e algumas poucas instituições fundamentais ao funcionamento da cidade. Depois, os habitantes teriam de buscar água, diariamente, em 200 postos espalhados pelo município, onde poderiam captar no máximo 25 litros.

Como o Dia Zero foi evitado?

A prefeitura e parte da sociedade civil estabeleceram um comitê consultivo sobre água e duas estratégias foram assumidas. Primeiro, a decisão foi de diversificar a fonte do abastecimento hídrico até então muito dependente das chuvas. Foram implementadas novas tecnologias, como a dessalinização, a recuperação de água de esgotos e a perfuração de poços em aquíferos.

A outra estratégia se dedicou a reduzir a demanda de água, por meio de restrições ao consumo, reajustes de tarifa, além de um sofisticado sistema de gerenciamento de pressão. Assim, a Cidade do Cabo alcançou um excelente resultado: em 18 meses, reduziu o consumo em mais de 50%.

Entre as soluções a longo prazo para a Cidade do Cabo estão a exploração de mais aquíferos, embora alguns deles sejam de difícil operação, como o que fica próximo da icônica Table Mountain. Outra solução apresentada está em operação lenta. Foi planejada a instalação de dez usinas de dessalinização, mas apenas três estão em operação e as sete restantes não têm prazo para serem construídas.

“Estamos agora em posição de afirmar que não só conseguimos evitar [o Dia Zero] este ano, mas também poderemos passar com segurança até o verão de 2019”, afirmou Ian Neilson em entrevista à rádio NPR. “Temos que nos certificar de que estamos fazendo uma mudança permanente na nossa abordagem ao uso da água”, completou o vice-prefeito.