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SÃO PAULO – Pesquisadores da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, e do Laboratório de Energias Renováveis do Departamento de Energia dos Estados Unidos desenvolveram – sem querer – uma versão turbinada de uma enzima que devora PET (politereftalato de etileno), um plástico usado com frequência em garrafas, embalagens e tecidos. A enzima original, chamada de PETase, foi descoberta em 2016 por uma equipe de pesquisadores da Universidade Keio, no Japão. Em 2017, enquanto estudavam a PETase, o time americano e britânico promoveu, inadvertidamente, uma mutação na enzima com um canhão de raios-x desenhado para fazer imagens da substância. A mutação pode ser a primeira de muitas e abre caminho para outras experimentações que podem levar a resultados ainda mais favoráveis aos objetivos dos cientistas.

Por que isso é importante

Hoje, segundo estimativas da Ellen MacArthur Foundation, referência quando o assunto é plástico nos oceanos e economia circular, 1 milhão de novas garrafas PET são produzidas no mundo a cada minuto. Pior: cerca de 91% de todo PET produzido não é reciclado, segundo números do primeiro estudo mundial sobre o descarte de plásticos, produzido pelas Universidades da Geórgia e da Califórnia em Santa Barbara.

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No Brasil, um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em colaboração com instituições de pesquisa nacionais e internacionais, constatou que microplásticos estão presentes em larga escala em praias e rios no País. O estudo que permitiu aos especialistas chegarem a essa conclusão foi publicado nas revistas Environmental Pollution e Water Research e diz respeito a resíduos plásticos com tamanho inferior a 5 mm, como fibras e detritos criados a partir da fragmentação de pedaços maiores de plástico. “Os microplásticos que entram em um ambiente de água doce são transportados, via os rios, até os oceanos”, disse à Agência Fapesp Luiz Felipe Mendes de Gusmão, professor da Unifesp da baixada santista e coordenador das pesquisas. “E quando chegam aos oceanos, esses fragmentos de plástico são transportados por correntes marinhas e tendem a ficar em suspensão na coluna d’água ou encalharem em praias”, afirmou.

Esperança

A PETase sem mutação fazia em dias o que a natureza levava séculos para fazer, ou seja, desfazer o PET aos seus elementos mais básicos para que eles retornasse à cadeia sem prejuízos para a vida nos rios e oceanos. Com a mutação, sabe-se que haverá ganho expressivo, embora a proporção ainda não tenha sido divulgada. A enzima poderá ser usada em escala em processos de reciclagem química, agilizando e barateando o procedimento.

Leia a íntegra da pesquisa (em inglês, gratuito) no site do “Proceedings of the Nacional Academy of Sciences of the United States of America” (PNAS), intitulada “Characterization and engineering of a plastic-degrading aromatic polyesterase”.