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SÃO PAULO – Não se adaptar às mudanças climáticas pode sair pelo menos cinco vezes mais caro do que investir e se preparar para o fenômeno. A conclusão é resultado de quatro anos de estudos do Grupo Metrópole, composto por pesquisadores do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No Brasil, o grupo usou a cidade de Santos, no litoral paulista, como modelo e concluiu que os custos mínimos das obras de adaptação necessárias na Ponta da Praia e na Zona Noroeste são de R$ 300 milhões. Não fazê-las custaria, pelo menos, R$ 1,5 bilhão.

“Mas esse custo de R$ 1,5 bilhão pode estar subestimado, uma vez que o modelo considera apenas a estrutura física de imóveis e os cálculos são baseados no seu valor venal. Se incluirmos prejuízos em outras áreas, como saúde e educação, por exemplo, o valor chegaria facilmente a R$ 3 bilhões”, diz José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden e coordenador do Projeto Metrópole, à Agência FAPESP.

Projeto Metrópole

O Projeto Metrópole seguiu três eixos de pesquisa: estimativa de perdas econômicas e análise de capacidade adaptativa, modelagem dos extremos climáticos, e impactos na saúde. Os cenários levantados consideraram projeções para os anos de 2050 e 2100. Nas estimativas mais realistas, o nível do mar deve subir 18 cm até 2050 e 36 cm até 2100. Já no pior dos cenários, a alta pode chegar a 23 cm em 2050 e 45 cm em 2100. No modelo, também foram consideradas as ocorrências dos chamados “eventos extremos”, como marés altas e ressacas, que têm sido cada vez mais frequentes, segundo levantamento feito com dados que vão de 1928 a 2016.

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Medidas de adaptação

Depois de analisarem os cenários, os pesquisadores dividiram os resultados com a população da cidade litorânea e o poder público com objetivo de elaborar as melhores e mais eficientes medidas de adaptação.

“Nessas discussões com a população é que apareceram as opções de adaptação. Uma delas é a fortificação: construção de muros, diques e melhorar a estrutura. Em outros casos, há medidas como o engordamento da praia. Outra estratégia que vimos como necessária para Santos é a recuperação dos manguezais, que entra na categoria de adaptação baseada em ecossistema”, disse Marengo, à Agência FAPESP.

“As medidas escolhidas pela população foram bastante adequadas. Esperamos agora que o projeto continue a ser encampado pela população e pelo poder público. Assim, teremos uma perspectiva bastante positiva de que o cenário sombrio não vai acontecer”, disse, também à Agência Fapesp, Luci Hidalgo Nunes, pesquisadora da Unicamp e participante do projeto.

Veja vídeo produzido pela Agência FAPESP sobre a pesquisa: