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SÃO PAULO – Com o início do inverno na última quarta-feira (21), começou o período de seca mais intenso do ano nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e parte do Norte do Brasil. Segundo o Prognóstico Climático de Inverno do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), documento produzido anualmente pelo órgão para a estação, o inverno deve provocar ainda neve nas regiões serranas da região Sul, geadas na região sudeste e no Mato Grosso do Sul e o fenômeno da “friagem” em Rondônia, no Acre e no sul do Estado do Amazonas. Pode parecer uma previsão protocolar para essa época do ano, mas o Prognóstico traz informações especialmente preocupantes para a região Centro-Oeste, em especial para a capital federal, Brasília.

De acordo com o documento, a região sofrerá com períodos de seca mais intensos que o de costume. Estão previstos longos períodos com umidade relativa do ar de até 30%, com picos de baixa inferiores a 20%. A cidade já enfrenta uma das piores secas dos últimos tempos e hoje vive em racionamento de água, com cronograma de cortes detalhado diariamente em um mapa criado pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Com a seca que se anuncia, não estão descartadas revisões e endurecimento do racionamento nos próximos meses. O inverno termina apenas em setembro de 2017.

Brasília enfrenta racionamento de água pela primeira vez na história

Menos de 60 anos após sua construção, o Distrito Federal decretou pela primeira vez a necessidade de fazer racionamento de água. A crise hídrica chegou a um de seus pontos mais críticos no fim de janeiro com o racionamento atingindo 14 regiões do DF. A medida impacta pelo menos 1,8 milhão de pessoas.

A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa-DF) e a Companhia de Saneamento Básico do DF (Caesb) adotaram a medida, autorizada desde novembro do ano passado, tendo em vista o nível do reservatório da Barragem do Descoberto, abaixo de 20%, e o baixo índice de chuvas.

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Regime de chuvas

De fato choveu menos. Historicamente, o volume de chuvas de setembro a dezembro na Bacia do Alto do Descoberto é de 669 milímetros. Porém, no mesmo período do ano passado, esse número não ultrapassou os 520 milímetros. Outro forte agravante foi ter chovido pouquíssimo nos primeiros nove dias de janeiro, apenas 2,27% da média histórica para o mês que é de 240 milímetros. Houve ainda aumento de consumo, 16% per capita nos últimos seis anos. Somado a pouca chuva e o aumento de consumo, há ainda o baixo investimento em obras estruturantes, principalmente as voltadas para novas captações de água.

O cenário, obviamente, lembra a crise hídrica ocorrida em 2014 no Estado de São Paulo. A estiagem no Distrito Federal começou em 2016, possivelmente como reflexo do fenômeno climático El Niño e, assim como na crise paulista, um ano antes da seca, não havia crise e os reservatórios operavam com 100% de suas capacidades.

“O caso de Brasília é muito parecido com o de São Paulo, são vários fatores similares. O principal deles é o crescimento urbano. A densidade populacional aumentou muito em Brasília, especialmente nas cidades-satélites, e a capacidade para fornecer água não acompanhou na mesma proporção”, disse à revista Época, Julio Sampaio, coordenador do programa Cerrado da ONG WWF-Brasil.