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SÃO PAULO – Você é um grande gastador de água? Certamente, sim. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), quase todo mundo é, pelo menos, um grande consumidor de água e o pior: toda a vez que se consome água, produz-se esgoto.

É essa a reflexão que a Organização das Nações Unidas quer fazer neste Dia Mundial Da Água, celebrado na próxima quarta-feira (22). Afinal, em um mundo que cada vez mais vai enfrentar problemas com a escassez hídrica, é preciso considerar o esgoto tratado como um recurso valioso a ser explorado e que garante saúde e higiene às populações.

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Há ainda muito que avançar. Atualmente, em todo o mundo, mais de 80% das chamadas águas residuais – recursos hídricos utilizados em atividades humanas, tornando-se impróprios para o consumo – são lançados na natureza sem o devido tratamento.

A ONU alerta que essa quantidade enorme de água poderia ser reaproveitada na indústria, em setores que não precisam tornar a água potável para utilizá-la como insumo. É o caso de sistemas de aquecimento e resfriamento. Outro uso da água que evita o desperdício de recursos com a purificação é a coleta da água da chuva para banheiros, irrigação ou lavagem de veículos.

Veja o vídeo do Dia Mundial da Água (em inglês):

“As águas residuais são um recurso valioso em um mundo onde a água é finita e a demanda está crescendo”, disse Guy Ryder, presidente da ONU Água e diretor geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Todo mundo pode fazer a sua parte para atingir o objetivo de Desenvolvimento Sustentável, reduzindo para metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando o reúso seguro de água até 2030 “.

Vale lembrar que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (SDG) 6.3, parte deu ma agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015, visa de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos até 2030. Para que esse objetivo seja alcançado, passa-se necessariamente pela redução das águas residuais não tratadas pela metade e do aumento substancial da reciclagem e reutilização segura da água em todo o mundo.

Sem o reúso, a conta não vai fechar
Até 2030, a estimativa é que a demanda por água aumente 50%. Isso exigirá mais esforços na melhoria de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, garantindo o reaproveitamento máximo das águas residuais urbanas. Outro problema, de acordo com a ONU, são os pesticidas e fertilizantes utilizados na agricultura. As substâncias químicas desses produtos são uma ameaça aos reservatórios de lençóis freáticos.

De fato, atualmente, a conta não fecha: mais de 80% do esgoto produzido pelos seres humanos volta à natureza sem ser tratado. Cerca de 1,8 bilhão de pessoas bebem água de fontes contaminadas por esgoto. A cada ano, 842 mil mortes são causadas por falta de saneamento e higiene, bem como pelo consumo de água imprópria.

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Para reverter o cenário e garantir a utilização sustentável dos recursos hídricos, as Nações Unidas pedem que governos, o setor privado e a sociedade civil a se mobilizarem contra o desperdício de água. Além da mudança de hábito de consumo, é preciso que países implementem políticas eficazes de saneamento.

Dá para fazer
A necessidade de virar a chave para a importância das águas residuais é tamanha que no ano passado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) fez um alerta para que se repense a maneira ineficiente com que lidamos com excrementos e as águas residuais.

“Já temos tecnologia para isso. Não é algo que estamos falando para fazer nos próximos 10 anos”, disse ao jornal britânico The Independent o professor Stefan Uhlenbrook, diretor do Programa Mundial de Avaliação da Água das Nações Unidas. Uhlenbrook afirma que o tratamento de águas residuais e o reúso dessa água é “uma situação ganha-ganha” que o mundo deve se atentar, especialmente porque “os recursos de água doce estão se tornando cada vez mais escassos”.

De acordo com estudos da ONU Água, o reúso das águas residuais tratadas é uma solução economicamente viável, já que os custos da gestão de águas residuais são ultrapassados pelos benefícios para a saúde humana, desenvolvimento e sustentabilidade ambiental. Além disso, o tratamento adequado das águas residuais fornece novas oportunidades de negócios, gera energia e cria mais “trabalhos verdes”.

“Normalmente você precisa de energia para bombear a água, para fazer certos processos de tratamento. Esta [planta] usa o material orgânico em um digestor para produzir metano que será queimado como fonte de energia. A estação de tratamento de águas residuais é também uma pequena casa de força”, diz.

Para Uhlenbrook, as águas residuais são questões centrais na economia global. “Existe um enorme potencial global que pode ser utilizado em benefício das pessoas, do meio ambiente e de ganhos econômicos”, disse. “A verdade é que melhorar o saneamento pode fazer toda a diferença no mundo”.