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SÃO PAULO – Como um furação lento, as secas podem percorrer quilômetros de distância do ponto de onde começaram. Cientistas identificaram que uma pequena parte das secas mais intensas é capaz de atravessar continentes como um desastre natural que lentamente cresce em um lugar e em seguida move-se para outra região, ganhando intensidade e magnitude.

Essa nova abordagem, que vê as secas como um tipo de força dinâmica, abre a perspectiva de que em breve o fenômeno possa ser monitorado de forma semelhante ao que se faz com os furacões – com a possibilidade de prever o desenvolvimento e os lugares por onde eles vão passar.

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Estudo identificou “rota” das secas nos continentes © Julio Herrera-Estrada

“A maioria das pessoas pensa que a seca é um problema local ou regional, mas algumas secas intensas realmente migram, como um furacão em câmera lenta em um período de meses a anos em vez de dias ou semanas”, diz Julio Herrera-Estrada, estudante de pós-graduação de engenharia civil e ambiental da Universidade de Princeton, que liderou o estudo publicado no periódico científico Geophysical Research Letters.

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O estudo identificou que 10% das secas “viajam” entre 1.400 e 3.100 quilômetros do ponto onde começaram. De acordo com os pesquisadores, são justamente essas secas as que tende a ser mais severas, com grande potencial de atingir a agricultura, energia, água e setores humanitários.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram dados de 1979 a 2009, identificando 1.420 secas em todo o mundo. Eles encontraram pontos em cada continente onde uma série de secas tinha seguido caminhos semelhantes.

 

Foi identificado, por exemplo, que no Sudoeste dos Estados Unidos, as secas tendem a se mover do Sul para o Norte. Na Austrália, os pesquisadores descobriram dois pontos de seca e “rotas de migração”, uma da costa Leste em direção ao Noroeste e outro das planícies centrais para o Noroeste.

Ainda não está claro para os pesquisadores o que faz com que algumas secas “viajem”, mas os dados do estudo sugerem que a relação entre precipitação e evaporação pode desempenhar um papel determinante nesse tipo de seca.