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SÃO PAULO – Numa mesa de bar, entre um assunto e outro, as pessoas acabam discutindo sobre a qualidade dos serviços que usam. Quase sempre giram em torno das contas bancárias, planos de celular, internet, plano de saúde. Há ainda quem coloque em pauta a conta de luz – “aumentou na sua casa também?”, alguém questiona -, mas ainda não é muito comum de se ver. Para Fernando Santos-Reis, fundador e presidente por nove anos da Odebrecht Ambiental, falar sobre a conta de água, então, é ainda mais raro.

“Apesar de convivermos com a água o tempo todo, pouquíssimas pessoas tem conhecimento pelo que existe por trás do setor; como ela chegou no seu chuveiro ou o quanto, de fato, você está pagando por ela”, diz. Para ele, a distância das pessoas das questões da água precisa ser reduzida com urgência e a consciência das questões relacionadas à água trazida para o cotidiano das pessoas.

Temas como esse foram debatidos num bate-papo com Marussia Whately, ativista e uma das idealizadoras da organização Aliança pela Água, em São Paulo (SP). O encontro foi produzido pelo Juntos Pela Água numa minissérie de cinco vídeos, já disponíveis no canal do site no YouTube. Esta é a primeira vez que o engenheiro e a ativista se reúnem para discutir o cenário da água no Brasil.

Gestão da água

Nos primeiros episódios da série, Fernando conversa com Marussia sobre a gestão da água no País. Ele cita obstáculos enfrentados na hora de garantir água potável à população, como o falta da cultura de coordenação de crise, e ainda reflete sobre soluções que poderiam impulsionar o desenvolvimento do saneamento básico.

A ativista cita o avanço do setor com a criação da Lei Federal 11.445/07 de 2007, que estabelece diretrizes nacionais de uma política federal para o saneamento básico, mas, para Fernando, ainda é necessário colocá-la em prática.

“O saneamento básico no Brasil não tem dono”, diz Santos-Reis. Para ele, a população brasileira ainda têm dificuldades de identificar quem é responsável pelos serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgoto. Com um cenário muito desigual em termos de estrutura, a realidade do setor muda bastante de uma região para outra.

Subsídios cruzados

De acordo com Fernando Santos-Reis, com municípios em realidades tão diferentes,  uma prática que sustenta parte do saneamento básico no Brasil, tanto água quanto esgoto, é a política de subsídios cruzados.

Um exemplo solução é o aplicado no Tocantins, que é totalmente operado pela Odebrecht Ambiental. Com a Agência Tocantinense de Regulação, a Fernando buscou uma divisão equilibrada para determinar onde haveria atuação como concessionária e onde seria como operadora.

Assim, chegaram ao número de 47 municípios com pelo menos 12 mil habitantes. Neles, a Odebrecht Ambiental funciona como concessionária e tem a responsabilidade de operar e investir no setor.  Nos municípios menores, a atuação é apenas como operadores. “Assim somos complementares ao Estado em uma questão que depende do compromisso dos dois parceiros, ninguém faria sozinho”, explica Fernando Santos-Reis, citando ainda a Funasa, órgão do governo federal, que tem o papel de desenvolver o saneamento em áreas rurais

MARUSSIA WHATELY

Arquiteta e urbanista, ativista e uma das idealizadoras da Aliança pela Água. Integra o quadro de sócios do Instituto Socioambiental. Recentemente, publicou o livro “O Século da Escassez – Uma nova cultura de cuidado com a água: impasses e desafios”, pela editora Claro Enigma.

FERNANDO SANTOS-REIS

É engenheiro civil com mestrado em administração de empresas (MBA) com mais de 30 anos de carreira. Foi fundador e diretor-presidente da Odebrecht Ambiental por nove anos.