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SÃO PAULO – O ano de 2016 será lembrado como o ano em que a contagem de moléculas de gás carbônico na atmosfera terrestre superou, de maneira definitiva, a marca de 400 em um milhão – ou 400 partes por milhão (ppm). Pode parecer uma informação técnica demais para ser lembrada – e muitos certamente irão esquecê-la. Mas se as possíveis consequências decorrentes dessa alta na concentração de CO2 se tornarem realidade, como acreditam alguns dos maiores especialistas em mudança climática do mundo, muitos voltarão a 2016 para entender as origens das alterações que este índice pode ter.

A superação do nível de 400 ppm de gás carbônico na atmosfera veio no final de maio e era esperada por praticamente todos os estudiosos do assunto. E não há perspectivas de que a proporção do gás na atmosfera volte a ficar abaixo desse nível nesta geração. Mas por que o nível preocupa tanto? Um estudo de 2009 da Universidade da Califórnia em Los Angeles mostrou que, da última vez em que tivemos 400 ppm de CO2 na atmosfera, há cerca de 15 milhões ou 20 milhões de anos, a temperatura média da terra estava entre 3°C e 6°C acima da média atual. Com isso, as camadas de gelo polar estavam substancialmente menores e mais finas, e os oceanos registravam níveis entre 25 metros e 40 metros acima dos níveis que vemos hoje.

Não é que simplesmente ultrapassar a marca dos 400 ppm vai, necessariamente, nos colocar nas condições observadas há 15 milhões de anos. Essas mudanças costumam demorar centenas, as vezes milhares de anos para acontecer. O que preocupa os cientistas é que vencer os 400 ppm de CO2 indica uma tendência de alta na concentração deste gás na atmosfera. O ano de 2015, por exemplo, foi o que registrou o maior crescimento anual do nível de CO2 no ar desde 1956: 3.05 ppm. E desde 1958, a taxa cresceu 24%. Ainda dá tempo de mudar essa trajetória, mas o tempo, indicam os especialistas, está acabando.