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Ainda com 69% de sua capacidade de 1,2 trilhão de litros, a Guarapiranga ocupou a liderança, fornecendo água para 5,2 milhões de pessoas nas regiões sul e sudeste da capital paulista, além dos municípios de Embu-Guaçu, Taboão da Serra e Cotia. Quando se chega a São Paulo pelo aeroporto de Congonhas, é possível ver os 25 quilômetros quadrados pelos quais se estendem as águas e desconfiar da existência de uma crise hídrica. Contudo, a ocupação desorganizada ao redor do manancial prejudica a qualidade da água captada ali. Das 800 mil pessoas que vivem nos arredores, a Sabesp estima que apenas metade conte com algum serviço de coleta de esgoto e 40% das moradias estejam em terrenos invadidos.

“A poluição do esgoto despejado por essas ocupações ilegais gera florações de algas que dificultam e encarecem o tratamento da água”, explica Ricardo Araújo, coordenador do Programa Mananciais da Sabesp. Essas algas, mais especificamente cianobactérias, se alimentam da matéria orgânica do esgoto despejado e produzem toxinas prejudiciais ao bioma aquático e aos seres humanos que venham a consumir dela. Em meses de temperatura elevada, as algas se espalham profusamente como um tapete verde. Uma floração de outubro de 2014 chegou a ter 3 quilômetros de extensão. “É o resultado da desigualdade de renda na cidade e da industrialização mal planejada, que afastaram as famílias para essas regiões periféricas”, conta Araújo. De acordo com ele, mesmo com leis estaduais que não permitem a ocupação a menos de 50 metros da água e o patrulhamento de mais de 300 soldados da Polícia Militar com apoio tático aéreo e pela água, invasões ainda são rotineiras.

Quando foi inaugurada em 1908, pela extinta São Paulo Tramway, Light and Power Company, responsável pela eletricidade da cidade, a função inicial da represa Guarapiranga era fornecer água para o funcionamento da usina hidrelétrica de Parnaíba do Sul. De 1930 em diante, com a represa Billings em construção ao lado, surgiram as primeiras casas na região. “A partir de 1970, ocorreu um boom populacional por causa do desenvolvimento do polo industrial de Santo Amaro e muitos dos primeiros migrantes nordestinos de então se alojaram por lá. Em 1980, a região da Guarapiranga tinha 320 mil moradores – cerca de 15 anos depois eram 550 mil. Hoje, somando com a ocupação da Billings, são mais de 2,3 milhões de pessoas em áreas de mananciais na cidade (população maior que a de capitais como Recife ou Porto Alegre), que desmataram uma grande parte da Mata Atlântica diretamente adjacente aos maiores reservatórios de água do município”, conta Araújo, esclarecendo como se deu o avanço das favelas sobre as áreas florestadas dos mananciais. “Em 1990, o custo para limpar a água das represas já tinha aumentado demais, mas o nível de poluição é mantido estacionário pelo controle da Sabesp desde então. O mais prático seria tirar as pessoas dali, mas isso é socialmente impossível. O custo é imensurável, pois algumas estão ali há mais de 30 ou 40 anos”, fala.

Quatro vezes maior que a Guarapiranga, a Billings possui cerca 800 quilômetros de margens e capacidade de armazenamento dez vezes maior que o Sistema Cantareira. Embora a Sabesp utilize parte disso para o abastecimento, por volta de 7,4 metros cúbicos por segundo, em dois pontos distantes da periferia que a cerca, ela está muito aquém de seu potencial. Considerada uma potencial “caixa-d’água” para a região metropolitana, planos de aumentar seu uso ainda em 2015 acabaram sendo abandonados pelo governador Geraldo Alckmin em razão dos altos custos para tratar suas águas extremamente poluídas em curto prazo.

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