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SÃO PAULO – A Rede Brasil do Pacto Global e o Instituto Trata Brasil, capitaneados pelo “Movimento Menos Perdas, Mais Água”, apresentaram esta semana um estudo inédito na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) que associa a perda de água tratada com os riscos para bacias hidrográficas. Intitulado “Perdas de água nos sistemas de distribuição como agravante à vulnerabilidade das bacias hidrográficas”, o levantamento teve apoio da Braskem e da Sanasa, entre outros, e focou no caso das bacias do PCJ, compostas pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que ficam nos estados de São Paulo e Minas Gerais. “Num primeiro momento, nosso objetivo foi descobrir o que acontece, em termos de perdas, nesta que é uma das bacias mais críticas do Brasil’, diz Alceu Galvão, pesquisador responsável pelo estudo. “Ao final do levantamento, fizemos algumas recomendações com medidas concretas que podem ser tomadas para minimizar as perdas e a vulnerabilidade das bacias”.

Perda de água

Não é de hoje que o controle de perdas de água tratada não só nas bacias do PCJ, mas em todo o Brasil, incomoda quem trabalha com saneamento no País. Embora os esforços para diminuir o índice de perdas de água tratada no País sejam intensos, ele permanece em 36,7%, de acordo com os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS). Em 2013, quando as perdas estavam em 37%, o Instituto Trata Brasil estimou o volume de água tratada perdida no País em 6,5 bilhões de metros cúbicos ao ano, o que dá 6,5 vezes toda a capacidade de armazenagem do sistema Cantareira. É água suficiente para abastecer 50 milhões de pessoas por um ano. Vendido, esse volume renderia pouco mais de R$ 8 bilhões.

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“O tema de controle de perdas é bastante complexo”, disse Mônica Porto, secretária adjunta de recursos hídricos do Estado do São Paulo, durante o evento. “E estamos falando de perdas físicas, que são as perdas mais graves”, lembra. Existem dois tipos de perda: a física, também descrita como “real”, que é a perda dos vazamentos; e a perda aparente, que é a distribuição de água tratada sem arrecadação. “Na perda aparente, pelo menos tem alguém consumindo a água – na perda física, nem isso acontece: é o desperdício puro e simples”, diz.

Resultados

A partir dos dados levantados pelo estudo, ficou estabelecido que, com a redução no índice médio de perdas da região atendida pelas bacias do PCJ dos atuais 37,2% para 30%, 63 bilhões de litros de água seriam poupados todos os anos. O volume equivale a 6,5% do volume que as bacias do PCJ contribuem para o sistema Cantareira e 85% do volume de anual usado pelos 950 mil habitantes do município de Campinas. Mais: a redução nas perdas representaria uma economia de R$ 104 milhões ao ano. As cidades mais beneficiadas seriam Piracicaba, Jundiaí, Sumaré, Santa Bárbara D’ Oeste, Atibaia, Amparo, Pedreira, Rio Claro, Valinhos, São Pedro, Louveira, Indaiatuba e Jaguariúna como as maiores beneficiadas.

O estudo também reforça uma conclusão antiga do Plano de Bacias do PCJ, que mostra que a demanda futura de água nas bacias deve superar sua disponibilidade hídrica até 2035. Mesmo que, até 2035, a região consiga reduzir o índice médio de perdas para 25% – meta considerada otimista pelos especialistas – e diminuir a demanda por água para irrigação, a demanda total pelo recurso na região ainda superaria a oferta em 22%.

Assim, as recomendações do relatório no sentido de garantir a segurança hídrica da região vão além da simples redução de perdas de água e passam pelo aumento no índice de tratamento de esgotos, pela utilização de água de reuso, e, fundamentalmente, pela redução do consumo de água per capita. Incríveis 36 dos 74 municípios que compõem as bacias do PCJ têm índice de consumo superior à média nacional.

Confira o sumário executivo do estudo “Perdas de água nos sistemas de distribuição como agravante à vulnerabilidade das bacias hidrográficas”.