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Há 18 milhões de anos, a região oeste da Amazônia era alagada pelo mar do Caribe. A conclusão é de um estudo intitulado “Miocene flooding events of western Amazonia”, do Smithsonian Tropical Research Institute, publicado na edição de abril de 2017 da revista acadêmica Science Advances, dos Estados Unidos. Até hoje, o consenso era de que a região era seca e entrecortada por rios que transbordavam durante a estação chuvosa. Segundo especialistas, a presença do mar no oeste amazônico sugere que toda a bacia já foi ainda mais rica, em variedade de ecossistemas e diversidade de espécies, do que ela é hoje. “Eu achava [a hipótese do mar] impossível”, diz Carlos Jaramillo, cientista que liderou o estudo. “É difícil imaginar águas caribenhas no oeste amazônico – as regiões são muito distantes uma da outra e as chuvas na região enchem os cursos de água de sedimentos, o que dificulta a formação de novos corpos de água”, afirma.

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Jaramillo começou a perceber que a hipótese de um mar amazônico podia estar certa quando ele começou a descobrir fósseis, em meio à atual floresta amazônica, de animais que não deveriam estar ali. Camarões de água salgada, dentes de tubarão e bactérias oceânicas foram alguns dos sinais deixados em rochas e sob a terra pelo mar amazônico de 18 milhões de anos atrás. Peixes, tartarugas marinhas e moluscos também foram identificados.

Origem e desaparecimento do mar da Amazônia

Ao estudar a complexa formação geológica da região amazônica, Jaramillo pôde explicar a origem e o eventual desaparecimento do mar amazônico. Segundo ele, o começo e o fim do corpo de água está intimamente ligado à formação da cordilheira dos Andes. Enquanto elas se surgiam, fruto de movimentações tectônicas, o peso da rocha que se acumulava acima da superfície forçou o entorno a ceder, criando uma espécie de banheira natural e em escala continental. Foi por causa dessa baixada que a água do caribe não só invadiu, mas permaneceu, durante alguns milhões de anos, alagando a região.Aos poucos, porém, com o rearranjo das forças tectônicas, as montanhas que compõem os Andes começaram a se distanciar da região amazônica. Com isso, a superfície, antes rebaixada em função do peso das montanhas, passou a se elevar. A banheira natural se desfez e inviabilizou o acúmulo de volumes de água como o do mar amazônico, que acabou desaparecendo. Não, sem antes, deixar as provas de que ele existiu. Provas essas que Jaramillo viria a descobrir só 18 milhões de anos depois.