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SÃO PAULO – As águas do oceano Ártico, tidas como protegidas da poluição que domina as regiões mais próximas das zonas habitadas, já sofrem com a presença de volume significativo de micropartículas plásticas. Um novo estudo publicado no final de abril pela revista ScienceAdvances mostrou que 60% das águas não congeladas do oceano entre a Groenlândia e a Rússia contém esse tipo de poluição.

A estimativa dos pesquisadores é de que 300 bilhões dessas micropartículas – o que equivale a pelo menos 400 toneladas de plástico – já circulam pela região e afetam a vida e os ciclos marinhos. “A expansão da atividade humana e o aquecimento da região do Ártico, que passou a ter áreas com menos gelo onde os microplásticos circulam mais livremente, sugerem que grandes quantidades de poluição plástica podem se tornar prevalentes na área”, escreveram os autores do estudo.

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O levantamento sobre a poluição nas águas do Ártico vem sendo organizado desde 2013 e conta com as contribuições de cientistas de oito nacionalidades. Embora assuste, a concentração de micropartículas descoberta na região ainda é significativamente inferior à registrada nos cinco giros oceânicos onde hoje se concentra boa parte da poluição plástica oceânica. Estima-se que, nesses cinco giros, haja pelo meno 7 milhões de toneladas de plásticos, parte deste peso distribuído entre 5,25 trilhões de micropartículas do material. Alguns desses plásticos só terão se biodegradado 30 anos, outros podem passar mais de 100 anos flutuando pelos oceanos.

Os prejuízos para a vida, não só marinha, são incontáveis. As micropartículas plásticas têm, no máximo, 5 milímetros de diâmetro e são, frequentemente, consumidas por peixes, aves e até mamíferos, como o urso polar. Já existem estudos que mostram o impacto da poluição plástica sobre os sistemas endócrino e reprodutivo dos ursos polares. Mais: as partículas que não são consumidas podem acabar assentadas sobre organismos como corais que, mortos, podem vir a desestabilizar um ecossistema inteiro.

Oceano Ártico: fim da linha

Segundo os autores do estudo, a crescente concentração de plásticos na região do Ártico se explica a partir do funcionamento das correntes marinhas. A área é uma espécie de “fim da linha” das correntes quentes que sobem ao norte a partir das regiões mais próximas do Equador. Essas correntes trazem, com elas, o lixo plástico. Ao chegarem nas regiões frias, as águas quentes perdem calor e afundam, deixando os plásticos, que bóiam, na superfície. Como esse movimento é constante, a pressão dessas correntes permanece e o plástico fica preso na região.

Também não ajuda que, com o aquecimento global, regiões do Ártico antes pouco ou não habitadas passaram a contar com a presença de seres humanos. Nesse sentido, nem todo o plástico que polui o oceano Ártico chega carregado pela correntes quentes do sul. Parte é lançada ao mar por quem habita costas banhados pelo Ártico.