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SÃO PAULO – O desmatamento na Amazônia altera o padrão de chuvas, o que traz consequências para o clima em várias outras regiões da Terra e também para a agropecuária no Norte do Brasil. Cientistas já intuíam essa relação, mas agora quatro pesquisadores dos Estados Unidos conseguiram demostrar como ela acontece.

Basicamente, quando ocorre o desmatamento em média escala há um deslocamento da chuva. A mudança na vegetação altera a circulação e com isso, em grandes áreas desmatadas, chove mais de um lado e menos do outro, de acordo com a direção do vento.

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O grupo liderado pela física indiana Jaya Khanna, da Universidade Princeton (hoje na Universidade do Texas em Austin), chegou a essa conclusão após analisar 30 anos de dados de chuva e desmatamento no Estado de Rondônia, que já perdeu mais de 50% de suas florestas.

Segundo o estudo, publicado no renomado periódico científico Nature Climate Change, a devastação foi tão extensa em Rondônia que alterou o próprio mecanismo de precipitação no Estado.

A análise mostrou que o sudeste de Rondônia está em média 25% mais seco nos meses de “verão” amazônico (a estação seca), enquanto o noroeste teve um aumento equivalente nas chuvas das últimas três décadas. A chuva concentrou-se depois da área desmatada, ou seja, foi “encurralada” pela região desmatada.

“Os modelos de computador já mostravam que desmatamentos grandes reduziam a chuva. O pulo do gato deste estudo é que ele propõe um mecanismo pelo qual isso acontece”, diz ao site Observatório do Clima o físico Paulo Artaxo, da USP. Ele é autor de comentário ao estudo na mesma edição da Nature Climate Change.

Para Artaxo, o estudo permitirá  entender exatamente o que acontece em outras regiões da Amazônia que já sofreram desmatamento extenso, como por exemplo o Mato Grosso. De agora em diante, diz, será possível alimentar modelos computacionais com esse processo para prever o que acontecerá localmente em várias situações de desmatamento. “Entender o mecanismo desses processos é chave para Brasil”, diz Artaxo. “Por exemplo: o meio-oeste brasileiro vai ter a mesma produtividade de soja?”, contesta.

Veja vídeo da USP sobre o estudo: