Escolha uma Página

SÃO PAULO – Nunca se falou tanto em falta de água como nos últimos anos. A seca que atinge não só o Brasil, mas diversas outras nações, tem sido cada vez mais agressiva por conta das mudanças climáticas. Isso coloca em dúvida o futuro da água: haverá o suficiente daqui a alguns anos? Não podemos aproveitar a água do mar, que corresponde a 97% dos recursos hídricos do planeta? 

Na verdade, não só é possível, como mais de 100 países já retiram o cloreto de sódio (o famoso sal de cozinha) da água salgada, tornando-a própria para consumo. Com o avanço e queda no custo da tecnologia, usinas de dessalinização são erguidas em vários cantos do mundo. 

Em Israel, a ideia de transformar água dos mares em potável começou em 2001 – uma época em que a nação sofria com a escassez. Atualmente, o país abriga a maior usina de dessalinização do planeta, Sorek, capaz de produzir 624 milhões de litros de água tratada por dia. Hoje é responsável por atender 20% da demanda de água municipal de Israel.

Usina de dessalinização em Israel transforma água mar em potável

Usina de dessalinização em Israel; nação foi pioneira em usar água do mar para consumo (Foto: IDE Technologies)

Outro exemplo de expansão é num dos locais mais afetados pela falta de água: a Califórnia. Nos últimos três anos, o estado sofreu a pior seca da história. Desde dezembro do ano passado, a usina de Carlsbad, construída pela empresa Poseidon Water, fornece pela primeira vez água do mar à população da região árida de San Diego.

Outros 15 projetos de dessalinização já foram propostos pelos estados da costa oeste, de São Francisco ao sul da Califórnia.

Como acontece? 

As tecnologias mais recentes usam o processo de osmose reversa. Basicamente, o sistema usa uma bomba hidráulica para empurrar a água salgada por centenas de cilindros metálicos. Cada um dos cilindros contém uma membrana de polímero cheia de furos bem pequenos. São tão minúsculos que medem um quinto de nanômetro.

Membranas da osmose reversa transformam água mar em potável

Membranas da osmose reversa na usina de dessalinização de Poseidon, em Carlsbad (Foto: Misael Virgen)

É aí que a mágica acontece: os buraquinhos são pequenos o bastante para bloquear as moléculas de sal, mas grandes o suficiente para deixar as moléculas de água passarem. Então, o sal é separado da água do mar e está já está praticamente própria para consumo. Em alguns casos, o líquido ainda recebe um tratamento para diminuir a acidez.

Há controvérsias 

Ainda há alguns pontos a serem acertados quando o assunto é dessalinização. Primeiro, é necessário que a tecnologia fique ainda mais barata. Países mais pobres não conseguem arcar com os custos de uma usina. Nestes casos, a reutilização da água a partir do esgoto tratado pode ser uma alternativa mais viável, como faz a Aquapolo (empreendimento entre Odebrecht Ambiental e Sabesp) no Brasil.

Outro problema é justamente o que fazer com tanto sal que sobra, a salmoura. A solução é garantir que o resíduo não chegue ao solo ou a rios de água de doce e seja lançado bem longe do mar para que ela não volte ainda mais salgada do que veio. Grupos de ecologistas questionam a construção das usinas, pois não há dados concretos sobre o impacto da reintrodução do sal nos mares.